O consumo de substâncias psicoativas na perspectiva da saúde coletiva: uma reflexão sobre valores sociais e fetichismo [Psychoactive substance abuse from a collective health perspective: a reflection about social values and fetishism]

Autores

  • Vilmar Ezequiel Santos Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem
  • Cássia Baldini Soares Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem

Palavras-chave:

Consumo de Substâncias Psicoativas, Valores Sociais, Saúde Coletiva, Mercadoria, Fetichismo.

Resumo

Trata-se de um ensaio de natureza teórica que agrega elementos conceituais sobre consumo de drogas, valores sociais e fetichismo, buscando-se articulá-los de maneira coerente a partir da epistemologia marxista, que fundamenta o campo da saúde coletiva. Parte-se da compreensão de que o consumo de substâncias psicoativas assume particularidades na contemporaneidade, que encontram-se diretamente relacionadas às transformações da estrutura e da dinâmica sociais. Compreende-se que a proliferação de um cardápio cada vez mais amplo de substâncias psicoativas, em que pese os usos terapêuticos e consumos benéficos, se relaciona em grande medida com outras necessidades que se impõem nos modelos de felicidade e realização atuais. As necessidades sociais que impulsionam o consumo prejudicial de substâncias psicoativas não estão determinadas pelos efeitos psicoativos da droga ou por problemas comportamentais individuais, conforme tem sido tratado por diversas concepções que alimentam as políticas públicas dominantes na área. Argumenta-se que as necessidades se referem a um certo mal estar global que perpassa a vida social atual, resultando em formas compulsivas e alienadas de relações com os objetos de consumo, como mercadorias. Busca-se ainda compreender os mecanismos que engendram e explicam a categoria mercadoria e a relação entre trabalho e fetichismo e suas implicações com o conceito de alienação. Dentre as formulações do campo da saúde coletiva aponta-se como perspectiva política o fortalecimento de sujeitos críticos e politizados na busca de emancipação. Critica-se o ideário que sustenta metas simplórias e irreais de sujeitos abstinentes ou da eliminação das drogas, conforme propagado pela ideologia dominante que camufla a exploração e marginalização produzidas pela desigualdade social, reiterando explicações funcionalistas que “criam” sujeitos desviantes, inadaptados, rebeldes, fracos e incorrigíveis.

 

ABSTRACT - This theoretical essay presents conceptual elements regarding drug abuse, social values, and fetishism, aiming to make a coherent connection between them based on the Marxist epistemology that serves as the foundation of collective health. It is understood that, today, substance abuse assumes specific particularities that have a direct relationship with the changes in social structure and social dynamics. The menu of available substances, which includes therapeutic and beneficial uses, is constantly expanding. The proliferation of this menu is mostly related to other needs that are imposed on the current models of happiness and fulfillment. The social needs that boost hazardous substance abuse are not determined by the psychoactive effects of the drug or by individual behavioral issues, as addressed by several concepts that foster the main pubic policies in this area. It is suggested that the needs refer to a so-called global malaise that surpasses current social life, resulting in compulsive and alienated relationships with consumption objects, as merchandises. This study also seeks to understand the mechanisms that engender and explain the merchandise category and the relationship between work and fetishism and its implications with the concept of alienation. Among the formulations of the collective health field, the outlined political perspective is the strengthening of analytical and politicized subjects in their search for empowerment. Furthermore, the study criticizes the mindset that sustains poor and unreal goals of abstinent subjects or of the sheer elimination of drugs, as disseminated by the dominant ideology that camouflages exploitation and marginalization produced by social inequality, reiterating functionalist explanations that “create” subjects that are deviant, misfit, rebel, weak, and hopeless.

Keywords: Substance abuse; Social values; Collective health; Merchandising; Fetishism (psychiatric).

 

Biografia do Autor

Vilmar Ezequiel Santos, Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem

Participante do Grupo de Pesquisa Fortalecimento e Desgaste no trabalho e na vida: bases para a intervenção em saúde coletiva do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Mestre em enfermagem em saúde coletiva. Este texto é extraído da tese de doutorado de Vilmar Ezequiel dos Santos intitulada Valores sociais e valores associados ao consumo de drogas entre jovens de diferentes grupos sociais na cidade de Santo André – São Paulo: uma análise de representações cotidianas.

 

Cássia Baldini Soares, Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem

Coordenadora do Grupo de Pesquisa Fortalecimento e Desgaste no trabalho e na vida: bases para a intervenção em saúde coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Orientadora da tese em questão.

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Publicado

2013-04-24

Como Citar

Santos, V. E., & Soares, C. B. (2013). O consumo de substâncias psicoativas na perspectiva da saúde coletiva: uma reflexão sobre valores sociais e fetichismo [Psychoactive substance abuse from a collective health perspective: a reflection about social values and fetishism]. aúde & Transformação ocial ealth ∓ ocial hange, 4(2), 38–54. ecuperado de https://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/saudeetransformacao/article/view/2214

Edição

Seção

Pesquisa, Teoria e Metodologia